• (11) 4022-2899
  • Instituto CIENSA - Rua Joaquim Bernardes Borges, 411 - Centro - Itu/SP

Mostrando itens por marcador: dor muscular

Sábado, 04 Julho 2020 18:36

FIBROMIALGIA | Diagnóstico Termográfico

A Fibromialgia foi por bastante tempo uma condição desacreditada para diversos médicos e muitos profissionais de saúde que oferecem assistência aos pacientes com dor crônica. Segundo o Dr. Claudio Correa, coordenador do Centro da Dor e Neurocirurgia Funcional no Hospital 9 de Julho em São Paulo, a "dor é a própria doença" e é  considerada uma síndrome porque engloba uma série de manifestações clínicas envolvendo dor crônica, fadiga, indisposição e distúrbio do sono (além de outras entidades menos frequentes). "Foi desconsiderada por vários anos e os pacientes não recebiam tratamento adequado", afirma o médico.

 

Para mais informações sobre a Fibromialgia, acesse o texto FIBROMIALGIA - 10 pistas para ficar atenta!

 

E sabemos hoje que, a inexistência de um exame "padrão ouro" voltado ao diagnóstico da Fibromialgia coloca esta condição em clara vulnerabilidade, em especial para aqueles que sofrem com esta doença. 

Em 2008, uma equipe de pesquisadores de peso da Universidade de São Paulo encabeçado pelo Dr Marcos Leal Brioschi, Professor Doutor, Pós-Doutor do Centro de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), Presidente da Associação Brasileira de Termologia Médica e membro da American Academy of Thermology publicaram a "Documentação Médico-Legal Da Síndrome Fibromiálgica: Índice Termográfico", um documento de 18 páginas que tinham como co-autores: 

  • Dra Lin Tchia Yeng, Professora Doutora. Médica Fisiatra, responsável pelo Grupo de Dor do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Membro do Centro de Dor e Liga de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP);
  • Dra Helena Hideko Seguchi Kasiyama, Médica Fisiatra do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP);
  • Dra Elda Matilde Hirose Pastor, Professora Doutora, Reumatologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP);
  • Dr Francisco M. R. Moraes Silva, Professor Titular, Médico Legista, Doutor em Medicina Legal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e
  • Professor Dr Manoel Jacobsen Teixeira, Professor Titular, Neurocirurgião, diretor técnico da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Responsável pelo Centro de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Diretor da Liga de Dor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP). 

Este documento teve como objetivo criar um ÍNDICE Termográfico para delinear características funcionais-termológicas aos portadores da Síndrome da Fibromialgia.

"A síndrome fibromiálgica é uma entidade nosológica reconhecida por critérios clínicos bem definidos pela Academia Americana de Reumatologia, apesar de etiologia ainda desconhecida. Em 1992, a Organização Mundial de Saúde (OMS), em sua Declaração de Copenhagen, respaldou o diagnóstico da Fibromialgia, que havia se completado com o critério do Academia Americana de Reumatologia (Csillag, 1992). A Indústria Médica Americana de Seguros outorgou a fibromialgia um código (M79.0) na atual terminologia do Direito Processual e reconheceu a legitimidade desta síndrome. Desta forma, todos estes dados levam a afirmar o seu reconhecimento como doença."

Os principais argumentos ainda existentes contrários a estes estão baseados na:

  • Ausência de demonstração diagnóstica objetiva. As pesquisas quanto a sua fisiopatologia indicam alterações no processamento da dor, o diagnóstico desta síndrome não tem provas objetivas ou identidade reproduzível na prática clínica diária, mesmo com a exploração dos pontos dolorosos mediante algômetro, estudos de polissonografia, dosagens de determinados neurotransmissores e estudo por ressonância magnética funcional.
  • Elevada prevalência de alterações psicológicas associadas a esta enfermidade, que agravam ou estão associado a exacerbações da SFM e que podem conduzir a erros diagnósticos e a negação da existência da doença por familiares, previdência social, médicos e naqueles pouco familiarizados com a mesma." (Brioschi et al., 2008)

 

Entretanto, apesar de bem documentado o uso da Termografia Digital por Infravermelho de Alta Definição no auxílio diagnóstico da Fibromialgia, oriunda de uma instituição séria e produzida por pesquisadores e profissionais altamente qualificados, as lacunas não preenchidas ainda colocaram a tecnologia em questionamento. Em 18/10/2013 a Sociedade Brasileira de Reumatologia emitiu um parecer esclarecendo ao público que a Termografia por Infravermelho não era um método de diagnóstico para Fibromialgia. Como resposta, a ABRATERM (Associação Brasileira de Termologia Médica) se posicionou claramente em seu website (transcrito abaixo): 

"Na ansiosa busca de soluções rápidas para seus problemas, o leigo muitas vezes se precipita à conduta médica e acredita que um exame pode ser a resposta definitiva para sua doença, apesar de entendemos perfeitamente que isto possa fazer parte do seu quadro clínico, este posicionamento incomoda e não está de acordo com a melhor conduta.

Agradecemos a sábia postura da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) pelo seu ponto de vista esclarecedor e concordamos quando aponta ao leigo de que o exame de termografia não é diagnóstico definitivo da fibromialgia, e sim complementar, e que “não há nenhuma evidência cientifica realmente válida sobre o assunto”. Com toda razão, o parecer fundamenta-se muito bem em artigos importantes da literatura científica e inclusive no parecer do CRMPR que esclarecem de que, como todo exame, a termografia é complementar e não definitiva. Como bem apontado no parecer “nenhum artigo da bibliografia coloca a termografia como definitiva para diagnóstico, exceto para dor miofascial, mas não para síndrome da fibromialgia”, assim como nenhum outro exame também não é definitivo até o momento. Ressalta-se aqui, a exceção para dor miofascial apontada no parecer da SBR, que faz parte do diagnóstico diferencial da fibromialgia, a qual o exame pode ter indicação nestes casos. O que torna, portanto, o diagnóstico definitivo da fibromialgia dependente de uma boa e correta avaliação clínica. Se tratando de perícia médica, que se pauta na documentação em busca da verdade a serviço da Justiça, tudo que puder corroborar para documentação desta avaliação clínica é importante para uma correta conduta pericial.

Concordamos plenamente de que, quanto à “questão pericial que vem sendo levantado nas questões feitas por leigos poderia estar influenciando na “legalização” do exame como diagnóstico, quando na verdade ele é apenas complementar”, uma vez que, todos os exames diagnósticos que constam na tabela de procedimentos médicos da AMB, apesar de seu valor legal para perícia médica, são somente complementares e para fins de documentação de um ou vários aspectos de uma determinada doença, e, portanto, também não definitivos.

O parecer ressalta também com propriedade e baseado em literatura, a importância de realizar o exame de termografia em “ambiente extremamente controlado”, pois “poderia haver interferência grave no resultado quando feito por outro profissional” que não seja habilitado em termografia ou esteja realizando em centro diagnóstico devidamente adequado ao exame, i.e., que não seja de referência. Hoje há curso de pós-graduação médica, de dois anos, oficialmente reconhecido, como o de Termologia Clínica e Termografia, chancelado e ministrado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que forma profissionais adequadamente habilitados que podem conduzir este exame sob condições seguras para o diagnóstico complementar. Bem como, laboratórios de exame de termografia em instituições públicas e privadas de grande importância, como do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, Hospital Sírio Libanês e Hospital 9 de Julho em São Paulo e diversos outros em diferentes capitais de nosso país. Todos estes médicos termologistas, estão devidamente inscritos no Conselho Regional de Medicina, onde são fiscalizados regularmente quanto ao seu exercício profissional, bem como inscritos como membros titulares na Associação Brasileira de Termologia (ABRATERM), que procura instruir e preservar a boa conduta deste exame. Atualmente existe dentro da Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícia Médicas, um Departamento de Termografia Pericial, que dá orientação frente às questões médico-legais que envolvam exame de termografia no Brasil e está a disposição para esclarecimentos nesta área às demais sociedades médicas e a sociedade.

Conclui-se, portanto, de que a termografia tem valor legal como exame complementar no diagnóstico clínico da fibromialgia quando realizada por profissional devidamente habilitado e em centro de referência, e de que o diagnóstico definitivo deve ser corroborado pela correta avaliação clínica que pode ou não, conforme a indicação médica, utilizar a termografia para averiguar a dor miofascial associada à fibromialgia ou seu diagnóstico diferencial com outras doenças, uma vez de que se trata de exame para este fim.

Esclarecendo assim, todas as questões colocadas pela SBR, agradecemos a admirável conduta tomada pela mesma e ficamos a disposição para qualquer dúvida referente ao assunto,

Dr Marcos Leal Brioschi - Presidente da Associação Brasileira de Termologia Médica (ABRATERM)" 

(acessado em 04/07/2020: https://www.abraterm.com.br/institucional/pareceres/parecer-da-abraterm-referente-diagnostico-da-fibromialgia/)

Em resumo: o exame de Termografia Digital por Infravermelho de Alta Definição, assim como outros exames complementares, é um exame "complementar" e não é um exame "definitivo" para fibromialgia. Junto a uma avaliação minuciosa da sintomatologia, a Termografia por Infravermelho colabora com o amparo diagnóstico da Síndrome Fibromiágica, permitindo, inclusive a exclusão de outras entidades clínicas que podem simular a doença. 

No consultório de Medicina da Dor, vejo ser imprescindível o esclarecimento do quadro clínico de maneira detalhada, em especial utilizando o recurso da Termografia por Infravermelho. Porém, nunca deixando de lado protocolos de avaliação e exclusão de entidades nosológicas que possam confundir ou até mesmo simular a Síndrome da Fibromialgia. 

 

BIBLIOGRAFIA

  • Parecer da Comissão de Dor, Fibromialgia e Reumatismos de Partes Moles – SBR.
  • Parecer CRMPR referente Termometria Cutânea
  • DEPARTAMENTO DE TERMOGRAFIA PERICIAL MÉDICA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MEDICINA LEGAL E PERÍCIAS MÉDICAS
  • International Consensus and Guidelines on Medical Thermography – ICGMT. Fortaleza, 2010.http://www.termologia.org/icgmt/2010 /index.html
  • Brioschi, M. L. et al. Medical Legal Documentation of Fibromialgya Síndrome: the Thermographic Index. 2008, REV. DOR 2008 - Out/Nov/Dez - 9 (4): 1327-1344 
  • International Consensus and Guidelines on Medical Thermography – ICGMT. Foz do Iguaçu, 2011. http://www.termologia.org/icgmt/fozdoiguacu2011/ 
  • Biasi G, Fioravanti A, Franci A, Marcolongo R. The role computerized telethermography in the diagnosis of fibromyalgia syndrome. Minerva Med 85:451-4, 1994.
  • Ammer K, Schartelmüller T e Melnizky P. Thermography in fibromyalgia. Biomed. Thermol. 15, 77, 1995.
  • Ammer K. Thermographic diagnosis of fibromyalgia. Ann RheumDis. XIV European League Against Rheumatism Congress, Abstracts, 135, 1999.
  • Ammer K. Thermal imaging: a diagnostic aid for fibromyalgia? Thermology International 18(2):45-50, 2008.
  • Sprott H, Jeschonneck M, Grohmann G, Hein G. Microcirculatory changes over the tender points in fibromyalgia patients after acupuncture therapy (measured with laser-Doppler flowmetry). Wien Klin Wochenschr 7:580-6, 2000.
  • Ammer K, Engelbert B, Kern E. Reproducibility of the hot spot count in patients with fibromyalgia, an intra- and inter-observer comparison. Thermol. Int., 11, 143, 2001.
  • Martinez-Lavin M. Fibromyalgia as a sympathetically maintained pain syndrome. Curr Pain Headache Rep 8:385-9, 2004.
  • Ammer K, Engelbert B. Reproducibility of the hot spot count in patients with fibromyalgia: an intra- and inter-observer comparison Thermol. Int. 2009; 19 47–51.
  • Peggy Pik-Yuk Hau1, Roger A. Scudds2 and Manfred Harth. An Evaluation of Mechanically Induced Neurogenic Flare by Infrared Thermography in Fibromyalgia. Journal of Musculoskeletal Pain, 1996, Vol. 4, No. 3 : Pages 3-20
  • Rothschild BM. Fibromyalgia: an explanation for the aches and pains of the nineties. Comprehensive Therapy 1991, 17(6):9-14
  • Qiao Z, Vaeroy H, Morkrid L. Electrodermal and microcirculatory activity in patients with fibromyalgia during baseline, acoustic stimulation and cold pressor tests. J Rheumatol 1991;18:1383-9.
  • Larson AA, Pardo JV, Pasley JD. Review of Overlap Between Thermoregulation and Pain Modulation in Fibromyalgia. Clin J Pain. 2013, Jul 24.
  • Jeschonneck M et al. Abnormal microcirculation and temperature in skin above tender points in patients with fibromyalgia. Rheumatology. 2000; 39:917-921.
  • Symonds ME, Henderson K, Elvidge L, Bosman C et al. Thermal imaging to assess age-related changes of skin temperature within the supraclavicular region locating with brown adipose tissue in healthy
    children. J Pediatr. 2012 Nov;161(5):892-8.
  • Lee P, Ho KK, Greenfield JR. Hot fat in a cool man: infrared thermography and brown adipose tissue. Diabetes Obes Metab 2011;13:92-3.
  • Brioschi ML, Yeng LT, Pastor EMH, Colman D, Silva FMRM, Teixeira MJ. Documentation of myofascial pain syndrome with infrared imaging. Acta Fisiatr 2007; 14(1): 41-8.
  • Brioschi ML, Yeng LT, Pastor EMH, Teixeira MJ. Infrared imaging use in rheumatology. Rev Bras Reumatol 47:42-51, 2007.
  • Brioschi ML. Índice termográfico infravermelho no diagnóstico complementar da fibromialgia. São Paulo, 2008. Tese (Pós-Doutorado) – Faculdade de Medicina, Departamento de Neurologia FMUSP, Universidade
    de São Paulo. 152 p.
  • Brioschi ML, Silva FMRM, Yeng LT et al. Prevalência de artrite inicial em perícia de pacientes com fibromialgia. Estudo termográfico. Congressos Genival Veloso de França 2012 – I Congresso Brasileiro de Medicina Legal e Perícias Médicas e I Congresso Brasileiro de Termologia Clínica e Termografia. Fortaleza, 2012.
  • Brioschi ML, Abreu GF, Balbinot L et al. Identificação clínica, termográfica e ultrassonográfica de pontos-gatilho em pacientes com fibromialgia (OR015). XXIII Congresso Brasileiro de Medicina Física e Reabilitação, São Paulo, 2012.
Publicado em Controle da Dor
Sábado, 04 Julho 2020 17:00

FIBROMIALGIA | 10 pistas para ficar atenta

Esta condição de dor crônica pode ser complicada de diagnosticar, mas ouvir como os pacientes descrevem seus próprios sintomas pode tornar os sinais mais fáceis de se identificar.

No caso de uma dor de garganta irritante, seu médico pode olhar sua garganta e procurar placas bacterianas (as populares "placas de pus") nas amígdalas. Ele também pode procurar vermelhidão, ou secreções ou, até mesmo, coletar uma amostra de secreção da garganta com um cotonete e enviar para um exame laboratorial onde será identificado o tipo microorganismo que está causando aquela dor de garganta. Se você tiver uma febre alta associada a tosse ou dor torácica, seu médico lhe poderá solicitar um RX de tórax para procurar pneumonia. Entretanto, nem todos os diagnósticos são tão simples assim!

A Fibromialgia é uma condição que se enquadra no grupo de doenças que não são nada fáceis de se diagnosticar. Condição que causa dor crônica generalizada - assim como fadiga, distúrbios do sono e dificuldades cognitivas - a Fibromialgia é muitas vezes um desafio não somente para os médicos como para muitos profissionais de saúde que cuidam de portadores desta condição. 

Até pouco tempo atrás, a Fibromialgia fazia parte do grupo de doenças difíceis de se diagnosticar, especialmente porque não há ainda um exame "padrão ouro" que nos permita conduzir o diagnóstico, como um raio-X ou um exame de sangue. Atualmente, a fibromialgia compreende um diagnóstico de EXCLUSÃO, o que significa que primeiro você tem que descartar outras doenças que possam estar causando sintomas. E muitas vezes, perante esta complexidade diagnóstica, a pessoa portadora de fibromialgia não raramente é desacreditada por profissionais de saúde e pela própria família e amigos.

A Fibromialgia também é um diagnóstico que tem sido sujeita a algumas mudanças. Em 1990, quando os primeiros critérios diagnósticos foram estabelecidos pelo Colégio Americano de Reumatologia dos Estados Unidos, um médico tinha que encontrar os seguintes elementos para dizer que seu paciente tinha fibromialgia:

  • dor em pelo menos 11 dos 18 "pontos sensíveis" designados em todo o corpo, 
  • mais um histórico de dor generalizada que durava mais de três meses.

Em 2010, porém, esses critérios diagnósticos de Fibromialgia foram atualizados para eliminar a exigência dos "tender points" (ou pontos dolorosos) e, em vez disso, concentrarem-se nas descobertas de que um paciente tem dor generalizada, bem como interrupções do sono, fadiga e dificuldades cognitivas.

Enquanto a validade da Fibromialgia como diagnóstico foi uma vez questionada na comunidade médica - levando a um estigma que ainda está superação - a pesquisa contínua nos trouxe uma série de explicações possíveis para as causas físicas da Fibromialgia (que vão da genética aos gatilhos físicos) e sistêmico (envolvendo o sistema nervoso central).

O que sabemos com certeza é que a Fibromialgia afeta aproximadamente 2% da população adulta nos Estados Unidos e este número é muito parecido com os números do Brasil. Segundo estudo publicado por Souza & Perissinotti, tomando como base um estudo nacional de dor crônica ocorrido em 2015-2016, cerca de 2% dos portadores de dor crônica se enquadram em critérios para Fibromialgia. Além disso, seu risco de desenvolver a condição aumenta se você for de meia-idade ou mais velho e tiver sido diagnosticado com lúpus ou artrite reumatóide, diz o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC). Você também pode correr um risco maior se for do sexo feminino (a maioria dos pacientes com Fibromialgia são mulheres), se tiver sofrido um trauma ou lesão/sofrimento persistente, ou se for obeso.

 

Mas as estatísticas e fatores de risco não podem descrever como a Fibromialgia realmente se comporta nas pessoas que precisam conviver com ela. Seguem abaixo as características mais frequentes dos portadores de Fibromialgia que ouço com mais frequência ao longo das quase duas décadas de Clínica de Dor. 

Para informações sobre o uso da Termografia Digital por Infravermelho no auxílio Diagnóstico da Fibromialgia, acesse: FIBROMIALGIA: Diagnóstico Termográfico

Dores generalizadas

Embora cada paciente com Fibromialgia seja diferente, suas descrições de dor esmagadora e debilitante em todo o corpo são muito comuns. Meus pacientes relatam sentirem-se doloridos e enrijecidos com uma dor que vai do topo da cabeça às unhas dos pés. Eles me dizem que a dor está nos músculos, na carne (!) e não nas articulações. Não raramente a dor é descrita como em facada, lacerante, contínua e cansada. 

Sensibilidade ao toque

A pessoa portadora de Fibromialgia pode relatar ser excessivamente sensível ao toque e à temperatura. Não raramente, a pessoa com Fibromialgia relata dor inclusive quando alguém a esbarra em uma sala lotada, por exemplo. Inclusive é comum ouvir de mulheres portadoras de Fibromialgia que não conseguem tolerar uma massagem pouco mais vigorosa. Mesmo que o estímulo seja retirado, como tirar a mão de um fogão quente, a dor pode continuar. É muito comum que as pessoas portadoras de Fibromialgia apresentem piora da dor ciclicamente, cerca de 6 em 6 meses. É relativamente comum vermos as recaídas acontecerem nos períodos de extremos de temperatura ambiente, como períodos de verão e inverno. Porém, isso não é uma regra aplicável para todas as pessoas! 

Problemas com o sono

É bastante comum a pessoa portadora de Fibromialgia queixar-se de problemas com o sono. Seja dificuldade para iniciar o sono, seja para mantê-lo ou mesmo a pessoa que diz dormir a noite toda, porém acorda como se não tivesse dormido nada! Meus pacientes costumam dizer que acordam diversas vezes durante a noite e acordam como se "um caminhão tivesse por cima" deles. Fato que a insônica e o sono não-restaurador é quase uma marca registrada da pessoa portadora de Fibromialgia. 

Cansaço durante o dia

Um dos problemas mais comuns para os pacientes com fibromialgia é a fadiga. É comum meus pacientes se queixarem que se sentem horríveis pela manhã, talvez não somente pela "noite mal dormida" como também pela sensação de cansaço interminável. Não é somente falta de motivação, como muitos dizem, ou "depressão" como profissionais acreditam que seja. É fadiga. É comum meus pacientes sob Cuidados Paliativos, outra área em que atuo, apresentarem sintomas de fadiga, cansaço. Mas aí você, leitor, pode pensar: "Mas a fadiga é explicada pelo câncer, ou outra doença crônica!". Pois então: a Fibromialgia é uma condição de "doença crônica" também. E o fato de ainda não termos um exame "padrão ouro" para o diagnóstico não significa que ela não exista. 
Problemas cognitivos
As pessoas portadoras de Fibromialgia, assim como portadoras de outras formas de dor crônica não tratadas queixam-se de "pensamento ruim". Não é raro tais pessoas dizerem "Minha cabeça tá ruim, eu me esforço, mas parece que minha cabeça não liga, fica tudo com névoas!". Também é comum referirem "Tenho dificuldade para se concentrar". É relativamente comum que portadores de Fibromialgia se percebam com memória de curto prazo comprometida.

Depressão e ansiedade

Para muitos pacientes, a Fibromialgia também pode trazer sentimentos de tristeza e outros estados emocionais negativos. Alguns pesquisadores suspeitam de uma conexão entre a Fibromialgia e certos tipos de ansiedade e depressão crônicas. E realmente, alguns dos sintomas citados anteriormente podem estar presentes em estados de ansiedade e depressão. No entanto, a DOR PERSISTENTE é um fenômeno mais evidente no portador de Fibromialgia. 

Dores de cabeça

Suspeita-se hoje que a Fibromialgia e a Enxaqueca tenham pontos em comum. O Dr José Geraldo Speciali, neurologista da Universidade de São Paulo - polo Ribeirão Preto - publicou alguns estudos epidemiológicos que sugerem essa correlação. Estudo de Stuginski-Barbosa (2007) concluiu que a Fibromialgia é muito mais prevalente em pacientes com cefaléia primária, especialmente na enxaqueca. Entretanto, tais crises de dor de cabeça podem ser desencadeadas de forma diferente do que em pacientes sem fibromialgia. Mas é MUITO IMPORTANTE lembrar que a ENXAQUECA (ou migrânea) NÃO É uma mera dor de cabeça forte, mas sim uma doença do cérebro que pode ter, dentre outros sintomas, a dor de cabeça. 

Questões digestivas

Pacientes portadores de Fibromialgia podem se queixar de problemas digestivos, como inchaço, constipação, dor abdominal e Síndrome do Intestino Irritável (SII), diz o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos. Fato é que ainda não se compreende muito bem a relação entre ambos, mas curiosamente vemos alguns benefícios do uso dos mesmos medicamentos para controle da Fibromialgia nos pacientes com Síndrome do Intestino Irritável. 
Como curiosidade e demonstrando que o pensamento clínico amplo no cuidado ao portador de dor crônica é essencial quando se deseja atingir o sucesso no tratamento foi o caso de uma amiga médica, cerca de 45 anos, que me procurou devido a dor crônica em todo o corpo. Ela recebeu o diagnóstico de Fibromialgia em um grande centro de formação de conhecimento no Brasil. Porém, não apresentava melhora da dor ou mesmo de sua qualidade de vida ainda que tomando diversos medicamentos para manejo da dor conforme protocolos internacionais. 

Ela era portadora de Doença Celíaca, com diagnóstico formal. Para quem não sabe, a Doença Celíaca causa uma reação imunológica à ingestão de GLÚTEM, uma proteína encontrada no trigo, na cevada e no centeio. Ao longo do tempo, a reação imunológica à ingestão de glúten cria uma inflamação que danifica o revestimento do intestino delgado, causando complicações médicas. Isso também impede a absorção de alguns nutrientes (má absorção).
O sintoma clássico é a diarreia. Outros sintomas incluem inchaço, gases, fadiga, baixa contagem de glóbulos vermelhos (anemia) e osteoporose. Muitas pessoas não apresentam sintomas.
Devido à dieta rigorosa, esta amiga não apresentava eventos diarreicos, porém referiu que apresentava má absorção de CÁLCIO - mas que estava adequadamente controlado, pois fazia suplementação desta substância. Frente a esta informação, achei adequado primeiro desconfiar se realmente o diagnóstico de fibromialgia estava correto! Isso mesmo! O raciocínio clínico inicial foi que poderia não ser Fibromialgia. Pensei que talvez, além do cálcio, ela poderia ter má absorção de outras substâncias, como o MAGNÉSIO. O magnésio e o cálcio compartilham de uma mesma característica química e pertence ao grupo de substâncias que são mal-absorvidas pelo intestino nos portadores de Doença Celíaca. Níveis reduzidos de ferro, folato, vitamina B12, vitamina D, zinco e magnésio são comuns em pacientes com Doença Celíaca não tratada, provavelmente devido à perda de proteínas da borda da escova e enzimas necessárias para a absorção desses nutrientes. Mesmo que a dosagem de magnésio medidos laboratorialmente estivessem normais, optei por administrar Magnésio de forma experimental. 
O magnésio é essencial para a função muscular adequada e atua para aliviar os músculos tensos, doloridos e com cãibras. Controla a contração muscular e atua como relaxante muscular. Portanto, pode ser vital no tratamento de dores nas costas e cãibras, relaxando os músculos das costas, o estresse renal e a tensão muscular. Mas NÃO SE ILUDA! Tomar magnésio não é tratamento para dores musculares ou fibromialgia. 
No caso desta amiga médica, após duas semanas de suplementação de magnésio, sua dor desapareceu! Veja que a análise dos dados clínicos foram detalhados e não significa que você, que eventualmente possa estar lendo este texto e tenha fibromialgia deva usar magnésio, ok? 

Disfunção do assoalho pélvico

Alguns pacientes com fibromialgia também podem ter uma incidência maior de cistite intersticial. Esta condição pode causar dor pélvica crônica ou pressão na bexiga e na pélvis. Algumas vezes pode ser confundido por alguns profissionais como bexiga hiper-reativa, o que deve ser adequadamente esclarecido. 

Dor na mandíbula e na face

É possível que a fibromialgia esteja ligada à dor nos músculos da mandíbula e da face (distúrbio da articulação temporomandibular) ou à dor miofascial (músculo esquelético) em uma parte do corpo. Tais ocorrências podem ser consideradas formas de fibromialgia regional ou localizada ou incompleta. Por isso, tecnologias como a Termografia por Infravermelho devem ser empregadas para o esclarecimento da presença de "pontos-gatilho" ou "trigger-points". 

Fibromialgia e artrite: qual é a ligação?

A relação entre a fibromialgia e os diferentes tipos de artrite pode ser complicada. Por um lado, há um diagnóstico inadequado: dependendo de como seus sintomas se apresentam, você pode ser informado que tem fibromialgia quando você realmente tem um tipo de artrite, ou vice versa. A espondilite anquilosante, outra doença reumática, e a fibromialgia podem ser confundidas uma com a outra, por exemplo.

Ao mesmo tempo, ter uma doença crônica dolorosa como a artrite reumatóide pode, por sua vez, desencadear o início da fibromialgia. Doenças inflamatórias como a artrite reumatóide podem afetar a forma como seu sistema nervoso central processa a dor, criando um reforço no processo chamado de "sensibilização central" de ter ambas as doenças ao mesmo tempo.

Se você suspeita que sua combinação de sintomas pode ser fibromialgia, é uma boa idéia começar com Médico de Dor. Como a fibromialgia é um diagnóstico de exclusão, você provavelmente precisará de um exame físico, exames de sangue e de imagem para descobrir o que poderia estar causando seus sintomas. A avaliação de um Reumatologista deverá ser tomada para a segurança de que sua dor não tenha origem inflamatória. Isso é bastante importante, pois é primordial o diagnóstico e controle adequado da doença reumática em vias de evitar maiores complicações em outras estruturas ou órgãos do corpo.


BIBLIOGRAFIA
SOUZA, Juliana Barcellos de; PERISSINOTTI, Dirce Maria Navas. A prevalência da fibromialgia no Brasil – estudo de base populacional com dados secundários da pesquisa de prevalência de dor crônica brasileira. BrJP,  São Paulo ,  v. 1, n. 4, p. 345-348,  Dec.  2018 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2595-31922018000400345&lng=en&nrm=iso>. access on  04  July  2020.  https://doi.org/10.5935/2595-0118.20180065.
STUGINSKI-BARBOSA, Juliana; DACH, Fabíola  and  SPECIALI, José Geraldo. Relação entre cefaléia primária e fibromialgia: revisão de literatura. Rev. Bras. Reumatol. [online]. 2007, vol.47, n.2 [cited  2020-07-04], pp.114-120. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0482-50042007000200006&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1809-4570.  https://doi.org/10.1590/S0482-50042007000200006.

Publicado em Controle da Dor
Copyright © 2024 TERMODIAGNOSE®. Todos os Direitos Reservados. Criado com por FUNReactor Web Team

AVISO IMPORTANTE: o conteúdo deste website tem caráter estritamente educativo e não deve ser considerado consulta médica ou método diagnóstico recomendado para o visitante deste website. Um médico habilitado deve ser consultado para que o diagnóstico adequado seja realizado. Todas as imagens diagnósticas foram obtidas de artigos médico-científicos ou tiveram sua imagem cedida contratualmente.
Responsável técnico: Dr. João Alberto Ribeiro, médico, CRM/SP 119.485.
Membro da Associação Brasileira de Termologia e Sociedade Brasileira pra o Estudo da Dor.

Aviso Legal: este website utiliza Google Analytics e coleta cookies para análise de desempenho deste website. A Termodiagnose® não coleta informações de seu navegador.